Cristina Z Sanchez - Voluntária do Instituto
A extraordinária visão das aves.
Pergunte aos seus amigos quais são suas cores favoritas e você notará que raras vezes a resposta será os tons de marrom e cinza... é bem provável que a maioria responda que suas cores favoritas são o verde, o azul, os tons de roxo e violeta. A última sondagem mundial feita por uma empresa, a YouGov, revelou que a cor preferida das pessoas no mundo todo, independentemente do sexo, é a azul. Em segundo lugar, vem o vermelho, o roxo, o verde. E por último... adivinhem! O marrom.
Beija-flor-rubi (Clytolaema rubricauda) fotografado em Santa Teresa, Espírito Santo. Foto: Leonardo Merçon
Floresta (paisagem) fotografado em Linhares, Espírito Santo - Sudeste do Brasil. Bioma Mata Atlântica. Registro feito em 2013. Fotógrafo: Leonardo Merçon
As cores são importantes na vida das pessoas e influenciam o ambiente à nossa volta, por isso os profissionais que trabalham com design e decoração dão tanta importância às cores e à sua harmonia com as formas. É fato e notório que elas influenciam o nosso humor e comportamento. Por exemplo, as paredes de um hospital, de um quarto de hotel ou de uma escola jamais devem ser pintadas de vermelho, pois essa cor é muito estimulante e pode causar irritação a pessoas expostas a ela por um longo período de tempo. Por sua vez, o rosa é relaxante e desperta a proatividade. O laranja desperta o apetite. O verde diminui o estresse e o azul acalma, enquanto o amarelo desperta a energia.
Lagoa de Caraís, Guarapari. Foto: Leonardo Merçon
Mas será que as cores despertam as mesmas sensações nas aves? Qual seria a importância da visão colorida para estes animais?
Pois saibam que as aves têm a capacidade de enxergar os raios ultravioleta (raios UV), o que para o ser humano é impossível sem o uso de equipamentos. Com certeza você já ouviu falar nos raios UV, principalmente agora que o verão está chegando. A exposição prolongada à radiação UV é nociva para a pele, podendo levar ao surgimento de câncer de pele. Mas, para as aves, essa radiação é importantíssima para sua sobrevivência. Elas influenciam na sua alimentação e estimulam a glândula pineal e a pituitária, desempenhando um importante papel no bom funcionamento do sistema nervoso central e no sistema endócrino das aves.
Rendeira fêmea (Manacus manacus) fotografado em Linhares, Espírito Santo. Foto: Leonardo Merçon
As aves se utilizam dessa capacidade no processo reprodutivo, sendo que a distinção dos indivíduos do sexo oposto é feita por meio do espectro dos raios UV percebido na plumagem. Sendo assim, mesmo que para nós, seres humanos, não haja dimorfismo sexual aparente, a reflexão dos raios UV nas penas, ao criar uma vasta gama de cores, tem efeito na seleção sexual, mesmo em aves que para os nossos olhos são totalmente escuras ou totalmente brancas. É bem provável que aquela ave que enxergamos como negra, marrom ou branca seja bastante colorida. Nossos olhos é que não são capazes de enxergar a gama de cores dos raios UV.
Tiê-sangue fêmea e macho (Ramphocelus bresilius). Foto: Leonardo Merçon
Apesar da nossa capacidade de enxergar uma ampla gama de cores, matizes e tons, as células que percebem cores na nossa retina, lá dentro bem no fundo do olho, chamadas cones, permitem a percepção de três cores primárias (vermelho, verde e azul) que se combinam. É a visão tricromática. Nas aves essas células são em número de quatro, o que lhes confere uma visão tetracromática. Esse quarto cone é sensível à radiação UV e permite a identificação de uma gama de cores distintas. Pesquisas indicam que algumas espécies apresentam um quinto cone, o que lhes daria a capacidade de diferenciar dois tipos de comprimento de ondas UV e uma capacidade incalculável e extraordinária de percepção de cores.
Retirado de: http://photographyoftheinvisibleworld.blogspot.com.br/2017/09/how-to-simulate-what-birds-may-see.html
Agora, imagine se você pudesse ver o mundo através dos olhos dessas aves! Como seria incrível poder ver uma gama de cores muito mais rica que a que podemos enxergar com nossos olhos, também fantásticos mas que perdem feio comparado às capacidades visuais encontradas nestes animais.
Como será que a visão de uma gama maior de cores influenciaria nas nossas vidas? Seríamos mais felizes, comeríamos melhor ou amaríamos mais? Só as aves poderiam nos dizer.
Amanhecer no Pantanal fotografado em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Foto: Leonardo Merçon
* Texto de Cristina Zampa Sanchez, Bióloga e Educadora Ambiental, Professora na Rede Municipal de Ensino da Serra-ES.
* Foto de Leornado Merçon, fotógrafo de natureza e conservação, voluntário do Instituto Últimos Refúgios (Instagram - @leonardomercon).
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REFERÊNCIAS
https://yougov.co.uk/news/2015/05/12/blue-worlds-favourite-colour/.
FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgard Blucher. 2006.
TISKI-FRANCKOWIAK, Irene T. Homem comunicação e cor. São Paulo: Ícone. 2000.
PINHEIRO, Daniel; SCHWENGBER, Eduardo Cipriani. As cores em ambientes internos com foco em suas influências sobre o comportamento dos estudantes. Em: http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/03/Artigo-Daniel-Pinheiro.pdf. Acessado em 05/12/2017.
CAMEIRO, Teresa Cristina Teixeira Vieira. Percepção das cores. Disponível em: . Acesso em: 05/12/2017.
TOLEDO, MCB.; DONATELLI, RJ.. Spectral analysis of flowers used by nectar-feeding birds in an urban area in Southeastern Brazil. Braz. J. Biol., São Carlos , v. 70, n. 3, supl. p. 729-735, Oct. 2010.
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