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  • Foto do escritorLeonardo Merçon

Mais uma vítima da BR-101

É com pezar que trazemos a notícia de que a Harpia socorrida na Br-101, que corta a Reserva Biológica de Sooretama, não sobreviveu! A Harpia é mais uma vítima da BR-101 nas Reservas Biológica de Sooretama e Natural Vale. Segue texto que os pesquisadores e veterinários que trabalharam para salva-la, nos enviaram: “Em menos de 10 meses, indivíduos de três espécies de grandes vertebrados ameaçados de extinção foram atropelados no trecho da rodovia BR-101 que corta as Reservas Biológica de Sooretama e Natural Vale, no Espírito Santo. Três antas (Tapirus terrestris), sendo uma prenhe, uma onça-parda (Puma concolor) e agora uma harpia (Harpia harpyja) foram vítimas dessa estrada que intercepta duas das Reservas de Mata Atlântica da Costa do Descobrimento, declaradas como Patrimônio Mundial da Humanidade, que formam o maior fragmento contínuo de floresta tabuleiros do Corredor Central da Mata Atlântica. Na manhã do último dia 08 de abril, durante o monitoramento de animais atropelados realizado pela equipe da Reserva Biológica de Sooretama, uma fêmea adulta de harpia foi encontrada na margem da BR-101, no canteiro próximo à mata. A ave foi resgatada ainda com vida, porém muito debilitada, e levada imediatamente para o Centro de Estudos e Reintrodução de Animais Selvagens (Projeto Cereias), em Aracruz. No final da tarde, foi conduzida, pela equipe do Programa de Conservação do Gavião-real (PCGR), para o Hospital Veterinário da Universidade de Vila Velha. Devido à distância, o animal chegou ao Hospital Veterinário na parte da noite, onde foi imediatamente atendido por professores e médicos veterinários residentes, especialistas em Medicina de Animais Selvagens. O animal se apresentava bastante prostrado, recebeu os primeiros socorros e posteriormente foi colocado em observação para realização dos exames clínicos. Na manhã do dia 09 de abril, após exame físico minucioso, foi percebido um grande edema na região abdominal, e as radiografias revelaram a presença de dois projéteis de chumbo alojados no corpo do animal. A ave foi devidamente medicada e colocada em observação novamente para aguardar os resultados conclusivos dos exames e os efeitos das medicações. Mesmo com todos os cuidados tomados, ela não resistiu e veio a óbito no início da tarde.

A equipe do laboratório de patologia do hospital realizou a necropsia logo após o óbito, o laudo conclusivo sobre as causas da morte deve sair em 30 dias. Porém, a equipe adiantou que a harpia apresentava lesões indicativas de trauma, como presença de fraturas em quilha e sinsacro, além de hematomas em abdômen e cabeça e hemorragias em encéfalo e lateral do globo ocular, sendo todas as lesões encontradas no lado direito. Além disso, dois projéteis de chumbo, provenientes de arma de fogo, foram encontrados no corpo do animal. Um em musculatura peitoral esquerda e outro dentro da cavidade celomática. Aparentemente não há correlação desses projéteis com os traumas recentes. Análises mais detalhadas estão sendo realizadas para elucidar a morte da ave. No dia 10 de abril, uma equipe da Universidade Federal do Espírito Santo, que realiza pesquisas sobre os impactos da BR-101 na fauna da região, vistoriou o local que a ave foi encontrada. Vários pedaços de um retrovisor esquerdo de caminhão Scania foram encontrados espalhados ao redor de onde o animal foi resgatado. A velocidade que os veículos passam no local de dia foi mensurada, a média da velocidade é de 80 km/h, muitos passam acima de 100 km/h, no trecho em que a velocidade máxima permitida é de 60 km/h. O acidente ocorreu a menos de um quilômetro de um radar fixo de controle de velocidade.

A harpia é maior águia das Américas, pode atingir mais de dois metros de envergadura, possui lenta taxa de reprodução, cria um filhote a cada dois a três anos por casal, e possui longo tempo vida, podendo viver mais de 40 anos na natureza. A remoção de um indivíduo fêmea adulto reduz muito a viabilidade de populações locais dessa espécie. No Brasil, a harpia passou a ser considerada ameaçada de extinção em todo território nacional no final de 2014, classificada como Vulnerável, quando foi divulgada a nova Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Na Mata Atlântica, restaram poucos indivíduos e a floresta das Reservas Biológica de Sooretama e Natural Vale é um dos últimos refúgios desta espécie no bioma. A população de harpia nas reservas é monitorada desde 2009 pelo PCGR. Entre os registros de indivíduos nas reservas, um foi avistado em 2011 com um macaco nas garras em uma árvore na margem da rodovia, no mesmo trecho deste atropelamento. As condições que o espécime atropelado foi encontrado retratam as ameaças que os indivíduos sofrem na região, estão sendo literalmente alvejados por tiros de caçadores e impactados pela rodovia.

Medidas para eliminar as ameaças sobre os animais de espécies ameaçadas nessas reservas são de caráter urgente, como mecanismos mais eficientes para coibir a caça e aumentar a fiscalização da velocidade dos veículos no trecho. Mas também, é necessário que os animais envolvidos em acidentes na região sejam imediatamente encaminhados para um hospital veterinário, para aumentar as chances de sucesso no diagnóstico e tratamento de trauma que tenham sofrido.” Autores do Texto: Aureo Banhos, Biólogo e Professor da Universidade Federal do Espírito Santo

João Rossi Júnior, Médico Veterinário e Professor da Universidade de Vila Velha Flaviana Lima Guião Leite, Médica Veterinária e Professora da Universidade de Vila Velha Ayisa Rodrigues de Oliveira, Médica Veterinária Residente na Universidade de Vila Velha Isabela Hardt, Médica Veterinária Residente na Universidade de Vila Velha Maria Cristina Valdetaro Rangel, Médica Veterinária e Mestranda do Programa de pós graduação em Ciência Animal da Universidade de Vila Velha Flávia Mara Machado, Médica Veterinária e Professora da Universidade de Vila Velha Tânia Margarete Sanaiotti, Bióloga e Pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia.

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