top of page

POST EM DESTAQUE

  • Projeto Marsupiais

Roedores X Marsupiais: quais são as diferenças?

Você já se perguntou se marsupiais e roedores são o mesmo tipo de animal? Ou já confundiu um gambá com um rato? Esses animais possuem algumas semelhanças e por isso são facilmente confundidos por quem não os conhece bem.


Vamos aprender um pouco mais sobre cada grupo e identificar quais caracteres podemos usar para diferenciá-los.


Fotos: Gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) e Rato-comum (Rattus rattus - espécie exótica, invasora). João Pedro Zanardo; Leonardo Merçon - Instituto Últimos Refúgios.

Para iniciarmos nossa conversa, precisamos entender que gambás e ratos são parentes biológicos muito distantes. Apesar de serem visualmente semelhantes, os ratos são placentários, isto é, o desenvolvimento dos filhotes ocorre na placenta, útero, órgão interno ao corpo da mãe que estabelece uma comunicação entre ambos.


Gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita). Foto: Leonardo Merçon - Instituto Últimos Refúgios


Já os gambás são marsupiais, animais que tem como principal característica a forma de desenvolvimento dos filhotes, que nascem prematuros (cerca de 10 dias de gestação) e terminam o desenvolvimento agarrados as mamas. Alguns marsupiais possuem o marsúpio, bolsa no abdômen da mãe, que protege os filhotes.


Marsúpio de gambá (Didelphis). Foto: Iasmin Macedo - Projeto Marsupiais


Tais características, apesar de não nos ajudar muito na diferenciação desses animais, nos fazem compreender melhor o quanto são distintos, pois o modo como os filhotes se desenvolvem determina diferenças metabólicas e reprodutivas, por exemplo.


A diferença externa mais evidente entre esses grupos está em sua dentição: os marsupiais brasileiros (gambás e cuícas) possuem uma dentição mais semelhante à de um cão, ou seja, com a presença de dentes incisivos, caninos, pré-molares e molares, não apresentando a longa dentição incisiva específica dos roedores. Como exemplo, temos a cuíca-marrom (Marmosa murina) que possui um focinho mais alongado que o do rato-da-árvore (Rhipidomys mastacalis).


Fotos: Iasmin Macedo - Projeto Marsupiais

Quando esse marsupial se sente ameaçado, expõe seus muitos dentes, finos como agulhas, diferentemente dos roedores, que não abrem a boca para expor sua dentição, mesmo quando se encontram numa situação de perigo, pois simplesmente decidem morder seu oponente. Vale destacar que ambas as espécies apenas atacam pessoas com mordidas quando se sentem ameaçados, pois esta é a estratégia que utilizam para se defender.


Outros métodos que podemos adotar, caso não seja possível conferir a dentição do animal, são as características externas. Gambás do gênero Didelphis, comumente encontrados em áreas urbanas, possuem a pelagem mais densa e desgrenhada, apresentando, normalmente, mais de uma coloração. Diferente da coloração uniforme, geralmente em tons escuros de cinza, verificada nos ratos urbanos.


Gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita). Foto: Daniel Gois - Projeto Marsupiais


Ainda podemos verificar nos gambás a presença de manchas escuras ao redor dos olhos e uma listra vertical escura entre eles. Essa característica é bem presente em várias espécies de marsupiais, como na cuíca-lanosa (Caluromys philander) e outras cuícas, como as do gênero Marmosa.


Mesmo com todas essas diferenças, existem ainda as exceções, como a espécie de marsupial Monodelphis domestica, que apresenta uma coloração cinza uniforme e orelhas curtas, como em alguns ratos. Contudo, diferente dos ratos que possuem uma cauda bem longa, esse marsupial possui uma cauda curta, menor que o tamanho do seu corpo.

Cuíca-marrom (Marmosa murina) e Rato-da-árvore (Rhipidomys mastacalis). Fotos: Iasmin Macedo - Projeto Marsupiais

Além destas características, podemos analisar também as patas dianteiras e traseiras de ambos os animais. No caso das patas dianteiras, os marsupiais possuem dedos mais espaçados, como no formato de uma “estrela”, ao contrário dos roedores, que possuem dedos mais juntos uns dos outros. Em ambos, todos os dedos das patas dianteiras possuem garras, muito utilizadas para escalarem árvores e outros suportes. Além disso, essas patas são utilizadas principalmente para segurar o alimento que coletam.

Cuíca-lanosa-cinza (Marmosa paraguayana), Gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) e Rato-da-árvore (Rhipidomys mastacalis). Fotos: Iasmin Macedo - Projeto Marsupiais

Temos também as características diagnósticas das patas traseiras, que se diferenciam entre as espécies conforme o habitat no qual se encontram. Normalmente, essas patas são mais robustas que as dianteiras, pois suas funções (locomoção, sustentação e arranque) exigem um melhor condicionamento físico. No caso das patas traseiras dos marsupiais, os dedos tendem a ser mais curtos nas espécies terrícolas (que vivem sobre o solo) e longas nas espécies arborícolas (que vivem sobre a copa das árvores) e escansoriais (que vivem em ambos os habitats).


Em todos estes casos, as patas traseiras possuem cinco dedos. No entanto, um deles permanece oposto aos demais, sendo desprovido de garra ou unha. Este dedo tende a ser maior nas espécies arborícolas e escansoriais, permitindo que abracem os galhos das árvores, numa atitude de sustentação.


Todos os dedos são livres entre si, exceto na cuíca-d’água (Chironectes minimus), que possui membranas interdigitais bem desenvolvidas para a natação. No caso dos roedores arborícolas, as patas traseiras são mais curtas, largas ou compactas, possibilitando um maior equilíbrio em galhos estreitos.


Em roedores terrícolas, as patas traseiras são mais alongadas e estreitas, permitindo maior sustentação e firmeza, auxiliando em corridas na busca de alimento ou fuga de predadores. Diferente dos marsupiais, os roedores não possuem o dedo opositor em suas patas traseiras. Existem algumas espécies de roedores também semi-aquáticas, que também possuem as membranas interdigitais.


Gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) e Rato-da-árvore (Rhipidomys mastacalis).

Fotos: João Pedro Zanardo; Leonardo Merçon - Instituto Últimos Refúgios.


Por fim, podemos diferenciar marsupiais de roedores também pela cauda, pois sua presença, características e funções podem variar conforme a espécie. Em todas as espécies de marsupiais que ocorrem no Brasil, a cauda se faz presente, sendo fundamental na locomoção e no equilíbrio desses animais, podendo apresentar uma superfície lisa ou coberta por escamas.


Na grande maioria, a cauda é longa, maior que o comprimento do corpo e da cabeça, e também é preênsil, funcionando como um quinto membro, o que os auxilia no deslocamento em árvores, por exemplo. Em outras espécies, a cauda pode ser curta, como no gênero Thylamys sp.


A coloração e a extensão da pelagem também podem variar conforme a espécie. Na maioria das espécies, a pelagem corporal restringe-se à base da cauda. No entanto, na cuíca-lanosa-cinza (Marmosa paraguayana) a base da cauda é coberta de uma pelagem por uns três centímetros.


No caso do jupati (Metachirus sp.), a cauda é inteiramente desprovida de pelos. Essa espécie se assemelha à cuíca-quatro-olhos (Philander opossum), no entanto, possui a cauda gradualmente despigmentada na porção terminal. A cauda da espécie Cuíca-d’água (Chironectes minimus) também é utilizada como quinto membro e tem função de leme, ou seja, ajuda na locomoção e direção que a cuíca percorre dentro do rio.


Em roedores, como o rato-da-árvore (Rhipidomys mastacalis), a cauda é longa, podendo atingir um comprimento maior que o seu corpo. A cauda desses roedores pode ser completa ou parcialmente desprovida de pelos, sendo utilizada, principalmente, para o equilíbrio durante sua locomoção.


As ratazanas costumam ser mais ágeis, pois também utilizam a cauda para gerar um atrito que as auxiliem a escalar superfícies lisas. Entretanto, a cauda dos roedores são semi-preênsil, de modo que não conseguem utilizá-la para se agarrarem em galhos.


Foto: Esquilo (Guerlinguetus ingrami), espécie de Roedor com cauda peluda.

Foto: Leonardo Merçon - Instituto Últimos Refúgios.


Além disso, a cauda destes animais tem a função de termorregulação, pois são formadas por um tecido altamente vascularizado, permitindo uma modificação do fluxo sanguíneo, e, por consequência, uma troca de calor com o meio ambiente. Em alguns roedores a cauda pode ser bastante curta ou vestigial, como nos preás (Cavia porcellus), cutias (Dasyprocta as.) e capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris).


Com todas essas características específicas de cada grupo, seja marsupial ou roedor, bem como as diferenças apresentadas entre ambos, será fácil reconhecê-los e distingui-los. Assim, saber diferenciar tais grupos nos ajuda a conversar as espécies, a exemplo das que são nativas da fauna brasileira, como a cuíca-marrom e o rato-da-árvore.


Para tanto, o Instituto Últimos Refúgios apoia vários projetos de conservação, a exemplo do Projeto Marsupiais, que visa a conservação dos gambás e cuícas, fauna marsupial brasileira.




Autores: Iasmin Macedo, Jessika Albuquerque, Ana Clara Mardegan, Rafael Carvalho e Laiz Pontes.

 

O Instituto Últimos Refúgios é uma organização sem fins lucrativos na qual os participantes são voluntários e precisa de recursos para financiar as suas atividades. Se gosta de nosso trabalho e quer que ele continue, saiba como colaborar clicando na imagem abaixo ou no link: PARTICIPE.


"Inspirando pessoas, promovemos mudanças!"


Também acompanhe o Instituto Últimos Refúgios nas mídias sociais.





bottom of page